Crítica de 'Coisas naturais', de Marina Sena
Cantora dilui identidade e referências no caleidoscópio latino do álbum

♬ A colagem exposta na capa do terceiro álbum solo de Marina Sena, "Coisas naturais", reflete a diversidade de influências e referências diluídas no caleidoscópio latino do disco lançado às 21h desta segunda-feira (31).
É justo reconhecer que a artista mineira virou o disco após dois álbuns, "De primeira (2021)" e "Vício inerente (2023)", que a catapultaram ao estrelato e a puseram no circuito de festivais. Ambos foram superestimados pela crítica, mas o primeiro ainda tem uma espontaneidade singular que se perdeu no segundo.
A naturalidade alardeada já no título do terceiro álbum parece escassa, mas quem espera emoções reais de uma cantora pop em 2025? Marina Sena está longe de ser uma grande compositora e de ter a potência vocal de Gloria Groove ou de Iza, mas cumpre os requisitos para ser estrela na era em que a música serve sobretudo ao entretenimento.
Nesse universo superficial, a artista se ambienta com repertório inteiramente autoral que procura ir além da atmosfera eletrônica da música-título "Coisas naturais" (Marina Sena, Janluska, André Oliveira e Matheus Bragança).
“Vou fazer um Carnaval na sua vida tão sem sal”, promete Marina em verso do refrão de "Desmistificar" (Marina Sena e Janluska). Na era dos emojis e da frivolidade das redes sociais, talvez ela faça mesmo o Carnaval para um séquito que pode se identificar com os sentimentos dissipados na atmosfera lo-fi de "Sensei" (Marina Sena e Janluska), na cadência do estilizado reggae "Combo da sorte" (Marina Sena, Janluska, André Oliveira e Matheus Guimarães) e na batida do reggaeton "Doçura" (Marina Sena, Luis Angel Lozano Acosta, Omar Roldán Molina, Benito Casado Muñoz, Gabriel Duarte Mendes, André Oliva, Tino Gomes, Charlie, Angela e José Barbosa dos Santos).
Em aceno para o mercado latino, "Doçura" tem o sabor da banda Çantamarta, trio radicado em Madrid, Espanha, mas com formação transfronteiriça por unir o colombiano-venezuelano LuisLo com os andaluzes Omar e Benito. No mapa criativo de Marina, "Doçura" evoca Zé Coco do Riachão (através de sample da rabeca do músico de Brasília de Minas) e o Grupo Raízes, referências da música de Minas Gerais que influenciaram a artista nascida na interiorana cidade de Taiobeiras (MG) em setembro de 1996.
Em universo similar, "Tokitô" (Marina Sena, Gaia, Nenny, Kidonov e Epico) é faixa que poderia figurar em qualquer álbum bilíngue de Anitta para o mercado latino. Marina Sena gravou a música com a cantora ítalo-brasileira Gaia e com a rapper portuguesa Nenny em outra conexão além das fronteiras do Brasil.
Em álbum sem feats. com artistas nacionais, a cantora mineira oferece eficiente pop para pista em "Mágico" (Marina Sena) e surpreende com evocações do samba, do samba-rock, da MPB e da bossa nova.
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